O MITO DE GIGES
A República II, 359b-360a Platão Para provar que só se pratica a justiça contra a própria vontade e pela incapacidade de cometer a injustiça, não poderíamos fazer nada melhor do que imaginar o seguinte. Demos ao homem de bem e ao iníquo igual poder de fazer o que quiserem e os sigamos para ver aonde a paixão os vai conduzir. Surpreenderemos o homem de bem tomando o mesmo caminho que o iníquo, levado pelo desejo de ter sempre mais, desejo que toda natureza persegue como um bem, mas que a lei sujeita, à força, ao respeito à igualdade. O melhor meio de lhes dar o poder de que falo é lhes emprestar o privilégio que, dizem, Giges, o antepassado do Lídio, possui outrora. Giges era um pastor a serviço do rei que reinava então na Lídia. Em consequência de uma grande tempestade e de um terremoto, o solo tinha-se fendido e uma medonha abertura tinha-se formado no lugar onde ele apascentava seu rebanho. Admirado com o que via, desceu pela abertura, e conta-se que, entre outras maravilhas...