Do Mito a Filosofia

Primeiramente quando nos referimos da passagem do Mito para a Filosofia, não podemos esquecer-nos de um fator importante deste processo – o período histórico e social que a civilização grega se encontrava e sua influência no pensamento grego. Inicialmente a Grécia era constituída por diversas regiões politicamente autônomas e neste período (séculos XII a VIII a.C.) o pensamento mítico era como os homens explicavam a realidade e o mundo. Posteriormente com a formação das cidades-estados (séculos VIII a IV a.C.) o pensamento mítico deixa de ser uma forma de interpretar a realidade para dar lugar ao pensamento lógico/conceitual. Neste período surgem os primeiros filósofos.
 Porém o que é Pensar? E como o Pensamento grego pode ser influenciado pelo contexto histórico e social em que se viveram?
Primeiramente até onde se sabe o pensamento na sua forma complexa é uma atividade exclusivamente humana e com isso é pelo pensamento que pomos em movimento o que nos vem da percepção, da imaginação, da memória, pelo qual apreendemos o sentido das palavras, articulamos significações, relacionamos experiências sensíveis ou cognitivas, comparamos, analisamos, ordenamos coisas. Portanto, é pelo Pensamento que compreendemos nossa realidade, nos situamos no mundo e meio em que vivemos podendo até interferir no rumo das coisas.
O pensamento mítico teria se originado da necessidade de compreender a realidade a sua volta empregando ao Mito a função pedagógica de transmissão da cultura e dos valores que expressam uma determinada concepção de vida.
O pensamento mítico é caracterizado usualmente por ser constituído de três formas: a união de elementos heterogêneos (diferentes) agindo uns sobre os outros, por exemplo, dizer que a chuva é a lágrima de uma deusa, ou que a noite é o manto de um deus. A segunda forma é organizando a realidade, isto é, fatos e coisas são colocados de uma maneira a dar sentido por meio de uma metáfora carregada de simbolismos. A terceira forma é estabelecer a relação entre seres, ou seja, humanos, animais e deuses estariam interligados numa única realidade.
Os mitos mais conhecidos são da época de Homero e Hesíodo (séculos XII a VIII a.C.) que teriam documentado essas narrativas, entre elas estariam poemas épicos (epopéias) como a Ilíada, a Odisséia e a Teogonia. Nesse período a sociedade grega era essencialmente rural, o enriquecimento dos senhores fez surgir à aristocracia proprietária de terras e o desenvolvimento do sistema escravista. E o homem grego dessa época acreditava que o destino (Moira) era fixo, imutável, e não poderia ser alterado, não havendo a noção de livre-arbítrio ou vontade pessoal. Os deuses teriam um papel importante na vida dos homens podendo interferir no rumo das coisas ou auxiliar para tanto para o bem ou como para o mal. No entanto, com a expansão do território grego, a formação das cidades-estados e o desenvolvimento de um comércio marítimo o homem mítico se vê frente a novas necessidades, entre elas, a forma de comercialização do escambo para a invenção da moeda. A introdução da moeda desempenha papel revolucionário, pois está vinculada ao nascimento do pensamento racional. Isso porque a moeda passa a ser um artifício em que é depositada uma noção de valor que estabelece a medida comum entre valores diferentes, isto é, a moeda é uma convenção humana.
Outro fato relevante para a passagem do pensamento mítico para o lógico/conceitual foi o surgimento da escrita, como possibilidade de maior abstração, uma reflexão da palavra que tenderá a modificar a própria estrutura do pensamento e a forma do novo homem grego agir, pois com o advento da escrita as leis que eram dependentes da arbitrariedade dos reis ou da interpretação divina, são codificadas numa legislação escrita, comum a todos, sujeita a discussão e modificação.
As reformas provocam uma nova visão de mundo e novos valores são estabelecidos. A antiga organização tribal é abolida e uma nova relação entre indivíduos é sedimentada, como cidadãos da polis. A organização da cidade grega é que ela está centralizada na praça pública, espaço onde se debatem os problemas de interesse comum.
Neste sentido o Mito forma narrativa fictícia de uma situação que não tem a preocupação de pretensão da verdade, mas apenas interpretar como meio para expor o verossímil como organização da realidade a partir da experiência sensível enquanto tal deixa de ser usual, cedendo lugar ao pensamento racional, o uso da palavra como verificação lógica e obtenção da verdade pelo meio da discussão.
            O pensamento Lógico ou Conceitual diferente do pensamento mítico opera por meio de um método (procedimento lógico para a articulação racional entre elementos homogêneos). Esse pensamento opera de acordo com os princípios de Identidade, Contradição, Razão Suficiente e Causalidade.

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