OBEDIÊNCIA, PODER E LUTA EM GENE SHARP

Gene Sharp é um cientista político, professor em Harvard que ganhou notoriedade por seus escritos e pesquisas referente a luta não armada contra regimes totalitaristas, nesses últimos dias, seu nome esteve vinculado aos movimentos estudantis no Egito. Para Sharp Poder está estritamente interligado ao social e político e a obediência é o coração do poder político de qualquer governo e regime.
Segundo Sharp, toda luta com sentido transformador, pelo qual, defende a soberania de uma nação é válida, mas é a partir da luta não violenta que a ação transformadora atinge o dinamismo requerido dentro da totalidade da organização social. Pois para o autor a não violência não significa passividade, mas sim, uma forma de luta de grande força e eficiência em que a própria população exerce o seu direito de defender sua soberania de usurpadores do governo, de agressores estrangeiros e, principalmente, como forma de expressar sua importância e maturidade política. Neste sentido, Gene Sharp escreve livros como "Da Ditadura à Democracia" em que o autor coloca suas ideias e formas de ação não violenta com intenção de servir como manual teórico e prático de inspiração a mobilização social frente a regimes intransigentes. Devido a isso muitos dos seus críticos comentam que suas obras são panfletagem de pouca profundidade.
Gene Sharp em contraste a teoria da ação violenta (em especial a militar) que o autor chama de "Teoria Monolítica do Poder", que parte do pressuposto que o poder de um governo é relativamente fixo, uma força dada, forte, independente, durável, quando não indestrutível, que se auto abastece e se autoperpetua. Portanto, não pode ser controlado ou destruído pelas pessoas, mas somente pela ameaça ou uso de força física, ou seja, guerras e conflitos armados.
Segundo Sharp, essa visão monolítica acredita que outros tipos de pressão e controles efetivos não consigam surtir efeito, pois não estariam de acordo com a natureza do poder. Porém, Sharp acredita que toda ação planejada e direcionada as fontes do poder será bem sucedida, pois todo poder tem raízes sociais, portanto, o poder político não é intrínseco àquele que o detém, porque o poder depende exclusivamente do grau em que a sociedade confere ao governante, sendo formado por interações de todas ou variadas fontes, por exemplo, a autoridade, recursos humanos, materiais e sanções.
Para Sharp a grande questão de todo o problema é porque as pessoas se mantêm obedientes a regimes que transgridem seus direitos? Qual é a natureza da obediência social?
Segundo Sharp, as fontes do poder dependem da obediência e cooperação dos súditos. Para o autor a chave da obediência é saber regular e atingir a mente das pessoas. Esse processo de controle da Obediência é algo que a máquina do Estado se apoia em fatores estruturantes, entre eles, sanções, ideologias e crenças que em conjunto causa a sensação de dependência entre as pessoas, invocando certa legitimação natural do controle e obediência das pessoas. Esse processo é completo quando as pessoas envolvidas internalizam a obediência como restrições da sua liberdade, limitando suas próprias ações. Essas limitações provêm de múltiplas razões, sendo as mais comuns a força do hábito, obrigação moral, receio, indiferença ou interesse próprio.
A teoria de Gene Sharp dos meio não violentos não é uma abolição ou rejeição do poder, ao contrário, é a demonstração da própria força de poder das pessoas, por meio de ações planejadas, visando agredir de forma pacífica as fraquezas do sistema, desintegrando as fontes do poder, apelando para o descontentamento geral e a mobilização conjunta de todas as esferas constituintes do Estado.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

MÉTODO FILOSÓFICO

O ATO DE CONHECER

O PROBLEMA DO CONHECIMENTO: RAZÃO OU EXPERIÊNCIA