MÉTODO E CONSTRUÇÃO

(Chirico - O espírito da Arquitetura)

Imagine que um aprendiz de pedreiro tenha que levantar paredes de uma casa, seu mestre de obras, diz para ele que antes de começar seu trabalho, deve conhecer todos os equipamentos e materiais que constituem o processo de construção. Portanto, ele ganha um manual de instruções de como fazer uma casa. Na sua aprendizagem, além de conhecer os equipamentos e suas funções, ele também aprende sobre os materiais e principalmente como fazer uma mistura de areia, cimento e água que será chamada de “Massa ou liga”. Passada esta etapa o aprendiz de pedreiro irá levantar sua primeira parede: inicialmente ele seguirá um padrão espontâneo de assentar e colocar a massa sobre os tijolos, a partir da sua experiência como observador de todos os outros pedreiros assentando tijolos. Logo, aos primeiros indícios de ventania, ele percebe que sua parede começa apresentar alguns problemas. Seu mestre pergunta: o que tem de errado nesta parede? Ele diz que acha que deve ter feito algo de errado, porém, não sabe apontar as causas do seu erro. Seu mestre, então, lhe diz para reavaliar tudo o que foi feito, e destruir o que está pronto e recomeçar tudo novamente.

Agora vamos imaginar que tijolos sejam argumentos, a massa ou liga, seja a coerência lógica e conexões entre os argumentos (as causas, os por quês). Imagine que cada parede erguida seja uma forma de ver e compreender um problema em questão. O contexto histórico, social e cultural, nesse caso, seriam as condições para a construção da obra, ou seja, a geografia do terreno, o dinheiro da compra dos materiais e a forma que a casa será feita conforme o gosto e desejo estético do dono.

Neste sentido podemos fazer a analogia que a construção do conhecimento e compreensão da realidade é como erguermos paredes que formarão uma casa. Se for elaborada de uma forma em que cada etapa desse processo seja analisado e planejado seguindo um rigor normativo as chances desta construção servir fielmente ao seu propósito é muito grande. Do contrário, acredita-se que não podemos ter garantias que isso possa acontecer.
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No processo de socialização temos os primeiros contatos com a nossa cultura, costumes, crenças e normas de convivência estabelecidas para reger o agir das pessoas. Portanto, é a partir destes primeiros contatos que inicialmente formamos juizos a respeito do mundo e das coisas. Esse construto primordial chamamos de Conhecimento Espontâneo ou Senso Comum.
Muitos dos problemas diários da nossa vida pessoal ou coletiva tomam como ponto de partida essa forma de saber espontâneo, sem recorrer a uma busca crítica das causas e problemas que se apresentam. No entanto, o grande problema em questão é que esta forma de pensar pode estar carregada de falhas, concepções rígidas, distorções interpretativas ou fragmentos da realidade. Em termos próprios da arte da construção de casas, essa parede apresenta “Matação”, que significa que ao primeiro sinal de problema irá ruir (desmoronar ou cair). Nestes casos, primeiramente buscamos sempre reparar tais falhas. Inicialmente a primeira atitude é a desconfiança, o questionamento para posteriormente passarmos para conhecer as causas do problema e refazermos o que está errado, isto é, tudo é reestruturado, visando uma transformação.
No processo de construção do Conhecimento isso se dá quando tomamos consciência desses problemas e ao buscarmos reavaliar nossas concepções, estamos desconstruindo o antigo saber por meio de tematizações, portanto, estamos refazendo a nossa percepção da realidade. Este processo chamamos de Bom senso, que seria a capacidade de discernimento e formação de juizos. Quando direcionamos essa capacidade a uma unidade de pensamento estamos usando um método de aplicação e com isso estariamos, não só expandindo nossas ideias, mas utilizando essa capacidade de discernimento ao seu máximo.
não é suficiente ter o espírito bom, o principal é aplicá-lo bem”
René Descartes – Discurso do Método



Alex Machado 

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