O QUE FAZ UMA OBRA SER CONSIDERADA ARTE?


Material de apoio 8° anos - complemento as aulas de Filosofia - Estética.

Introdução

A ideia é discutir as características do juízo de gosto, segundo Kant, a ideia de Belo, a atemporalidade do objeto de arte, a função das obras de arte, a autonomia da arte mediante valores não estéticos.

Principais problemas a serem discutidos:

- Que tipo de conhecimento apreendemos pelo ato do sentir?
- O que é arte?
- O que faz um objeto ser arte?
- Toda obra de arte deve ser bela?
- A arte é uma via de compreensão do real?
- Por que a obra de arte não é unívoca?
- Quais as funções da arte?


O QUE É ARTE?
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A estética é a área da filosofia que busca fazer uma reflexão sobre a arte, o que ela nos provoca, a relação obra e espectador, o caráter de universalidade ao mesmo tempo que a subjetividade que cada obra possui, os valores estéticos ou até mesmo os conceitos por trás de cada obra. O fato é que a estética como área do saber, busca a compreensão de questões como o que é arte? Como identificamos uma obra artística? Se a arte visa à beleza, como pode representar o feio, o trágico, a dor? Gosto se discute? Que sentimentos devemos considerar para classificar o que é arte? É preciso educar a apreciação artística?
Tantos questionamentos fazem parte do que chamamos de Estética, a reflexão artística sobre a arte. O filósofo alemão Alexander Gottlieb Baumgarten, no século XVIII, introduziu o termo e o conceito moderno de estética, definindo-o como o conjunto de teorias da arte. Para Baumgarten que tipo de conhecimento temos acesso pela sensibilidade (faculdade de sentir)?

O fato é que a compreensão do conceito de arte não é unânime. Ele tem sido construído por aproximações e distanciamentos, sendo alvo de polêmicas e controvérsias justamente porque a experiência estética não se exprime por conceitos. O que não significa que não se possa elaborar teorias a respeito ou formar conceitos, mas sim que na história da estética existem inúmeras definições de arte e de beleza, muitas delas conflitantes.

Mas podemos dizer que arte está ligada inerentemente ao juízo de gosto, ou seja, o despertar de uma sensação de prazer ou até mesmo provocar indignação ou o questionamento. Portanto, o belo não é o único valor estético que deve ser considerado para dizer o que é arte.

Por exemplo, a obra de Duchamp (roda de bicicleta) não é uma obra bela, entretanto, ela se propõe a questionar a ideia de belo, técnica/formalidade, representação do real. Para Duchamp a arte não deve se limitar a uma definição e sentido. Ela deve ser unívoca, ou seja, ter autonomia para transcender limites e não ser reduzida a definições ou representações. Para o artista a arte deve provocar e despertar o interesse do espectador. Logo, o importante é a relação entre obra e espectador.

Para Kant a obra de arte não é uma representação de uma coisa bela, mas sim a bela representação de uma coisa. Portanto, a obra pode representar o que for, desde que atraia a nossa atenção, desperte em nós uma sensação desconhecida ou adormecida e nos faça perceber de outra maneira, ainda que de um modo chocante.

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Kant teorizou sobra a capacidade de formular julgamentos, entre eles, o juízo estético do gosto. É pelo gosto que julgamos um objeto ou representação conforme a satisfação que ele pode nos causar, Em outras palavras, o belo decorre da sensação de prazer provocada pelo objeto quando apreciamos.
Kant distingue três características do prazer estético: a apreciação desinteressada, a originalidade e a exemplaridade da obra.

Apreciação desinteressada: é quando não tem fins pragmáticos, sem nenhum interesse, não havendo uma aplicação prática e imediata, mas apenas o deleite, à fruição. Portanto, a obra teria um fim em si mesma.
Originalidade: o talento do artista está em fazer algo novo, e não o que já foi estabelecido por regras. A partir dos mesmos materiais usados no seu tempo - a língua, as notas musicais, as tintas - o artista se torna criador de novas realidades. Com intuição, sentimento e imaginação, ele percebe a realidade de modo diferente ao usual e a obra que produz, por sua vez, provoca uma nova experiência naqueles que a apreciam.
Exemplaridade: quando a originalidade do artista é reconhecida, sua inovação servirá de modelo, de exemplo transformado em medida e regra de apreciação e será imitada por seguidores durante um certo tempo, apesar desta obra criar uma certa sacralidade, sendo única em valor e mesmo que copiada é considerada como única em valor artístico.

A ARTE COMO CONHECIMENTO

A arte é um tipo de conhecimento do mundo e de nós mesmos. Contudo, é um conhecimento diferente da abordagem filosófica e científica. Estas apreendem  a realidade pela razão, pelo pensamento racional discursivo, enquanto a arte organiza o mundo por meio do sentimento e de elementos simbólicos. Se a obra de arte é fruto da imaginação, da ficção e, portanto, se dá aos sentidos, à sensibilidade, poderíamos nos perguntar como então ela pode buscar o verdadeiro. Como resposta, podemos dizer que, se à arte agradam as metáforas, nem por isso estas a distanciam da realidade. Ao contrário, paradoxalmente, criam condições para melhor entendê-la. Neste sentido, podemos dizer que a arte não visa a reproduzir a realidade como ela é, nem tornar-se simples instrumento de conscientização ou veículo da verdade. Essas são tendências, mas não podemos dizer que essa seja a função da arte. 
Podemos dizer que as artes podem ter a função naturalista, pragmática ou formal: 

Função Naturalista: para Platão a arte é uma imitação da realidade. Já Aristóteles dizia que a arte é uma invenção que idealiza a representação da realidade ao mostrá-la de modo mais nobre. Essa concepção permaneceu durante muito tempo, sendo muito contestada no final do século XIX por alguns movimentos artísticos: a arte não é imitação do real.


Função Pragmática: essa concepção tem como caráter a ideia de aplicação prática à arte. Por exemplo, pinturas com alguma temática buscam transmitir uma ideia, conceito ou mensagem. Muitos artistas engajados a uma causa buscam essa funcionalidade as suas obras.

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Função Formalista: a autonomia da arte se expressa pela função formalista, que sobrepõe os aspectos estéticos, formais aos interesses naturalistas e pragmáticos. Portanto, mais que dizer algo, interessa dizer algo de modo criativo, ser provocativa e causar sensações ou questionamentos.

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A ARTE DEVE SER SUBMISSA A MORAL, A VERDADE, RELIGIÃO OU CIÊNCIA?

Como vimos, a arte não pode ser reduzida a um único aspecto devido a sua complexidade. Da mesma forma a arte não pode se limitar ou ser submissa a algum tipo valor não estético. Por exemplo, obras  clássica da literatura ou filmes de ficção jamais seriam criados se nos atermos a ideia de verdade ou moralidade. E muito menos estar submissa a moral, ciência ou religião. 

"Não existem livros morais ou imorais. Os livros são mal ou bem escritos. É tudo."
(Oscar Wilde - prefácio do livro O retrato de Dorian Gray)

Obras de arte não buscam ser arautos da verdade ou da moral religiosa/científica. A arte é expressão e penso que arte não é categorizar e ditar o que é certo e errado, pois a função do artista é criar, provocar algo de modo original (o belo, o feio, o trágico, o questionável, ...), e não pregar  o bem, a beleza ou a verdade. A arte deve ser bem feita, e não compete ser moral ou imoral, verdadeira ou falsa. Apear que não significa que a arte não alcance a beleza ou a verdade, o bem ou o mal, o falso e o verdadeiro. Querer limitar o que pode e não pode ser apreciado (seja polêmico ou não) e dizer o que é não é arte não passa de um equívoco ao que é realmente arte.


"Podemos apreciar as obras de arte como veículo de valores não estéticos - morais, sociais, religiosos, intelectuais e outros; a experiência será ainda mais rica por isso. Mas se respondermos diretamente a esses outros valores (...), não estaremos apreciando o objeto esteticamente como obra de arte." 
(Harold Osborne em Estética e teoria das artes)


TAREFA PROCESSUAL:

1) Qual é a importância do sentimento na obra de arte? Explique:
2) Em que medida pode-se dizer que a arte é subjetiva e ao mesmo tempo universal?
3) Por que a arte não é unívoco, ou seja, não possui um único sentido e significado?
4) Quais são as características do prazer estético segundo Kant? Explique cada um deles:
5) "Não existem livros morais ou imorais. Os livros são mal ou bem escritos. É tudo." 
Comente a frase de Oscar Wilde referente a autonomia da arte
6) Escolha uma obra que tenha te provocado algum sentimento (pintura, música, fotografia, filme, peça teatral, etc). Identifique a obra e responda o que essa obra teria despertado/provocado em você: 

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