Relação entre verdade e mentira

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Na filosofia antiga, Aristóteles (384-322 a.C.) se ocupa do tema da mentira, em principal, na obra Ética a Nicômaco. Na filosofia medieval, Tomás de Aquino (1225-1274) também estuda essa questão na Suma Teológica. No período filosófico moderno se destacam, nessa abordagem, Immanuel Kant – em suas obras Fundamentação da metafísica dos costumes, Princípios metafísicos da doutrina da virtude e Sobre um pretenso direito de mentir por amor aos homens – e Benjamim Constant – em seu livro Des réactions politiques.
Dentre os filósofos contemporâneos está Sissela Bok, com sua obra Lying. No entanto, foi Agostinho de Hipona (354-430), na história da filosofia medieval ocidental, quem mais se destacou por se ocupar do tema, de modo sistematizado e analítico. Herdando do pensamento de Platão (428-348 a.C.), exposto nas obras Teeteto, República e Hípias Menor, Agostinho estuda o tema da mentira em várias de suas publicações: Confissões, Solilóquios, Retratações, De Magistro, De Mendacio e Contra Mendacium
Para Agostinho, o que define a natureza da mentira é a intencionalidade do falante, independentemente da verdade ou falsidade do conteúdo da fala: “Não há mentira, apesar do que se diz, sem intençãodesejo ou vontade de enganar . […] Não se mente ao enunciar uma asserção falsa que cremos verdadeira, […] antes mente-se ao enunciar uma asserção verdadeira que cremos falsa. Pois é pela intenção que se deve julgar a modalidade dos atos ” (AGUSTIN, 1954, p. 244 e 367).  Portanto, segundo Agostinho, mentira é uma significação falsa unida à vontade de enganar, pois ninguém duvidará que mente aquele que, deliberadamente, diz algo falso com a intenção de enganar. Dessa forma, é possível concluir que, para Agostinho, o falante mente se e somente se: (1) o falante afirma uma falsidade; (2) o falante crê num conteúdo tal e, deliberadamente, afirma a negação desse conteúdo; e (3) o falante tem a intenção de enganar o ouvinte em vista de que creia que a afirmação é verdadeira.
A essa concepção tradicional de mentira recorrem, direta ou indiretamente, muitos estudiosos ao se ocuparem do tema. A respeito da condição (1) da concepção agostiniana não há dissenso. A respeito da condição (2), a mesma parece amplamente aceita na literatura contemporânea, ou seja: afim de mentir, alguém tem que dizer algo que crê ser falso. Há quem defenda que a mentira está, em grande parte, relacionada à norma conversacional de veracidade: “eu acho que se mente ao afirmar algo que se crê ser falso. Você afirma algo quando: (a) diz alguma coisa e (b) crê que está em uma situação onde não deveria dizer aquilo que crê como falso” (FALLIS, 2009, p. 06). Nessa mesma linha de pensamento, há aqueles para quem a mentira está relacionada diretamente à quebra de confiança que, de algum modo, aduz a princípios de cooperatividade; no entanto, o mais importante são as implicações morais relevantes neste tipo de ato: ao mentir, o falante está voltado a uma interlocução; mas, sobretudo, convida o ouvinte a confiar no que ele diz para, então, trair essa confiança com declarações falsas credíveis (cf. CARSON, 2006, p. 302.). No entanto, mentir não é, simplesmente, o ato de se dizer aquilo que se crê ser falso. 
Nesse sentido, estudiosos têm feito várias sugestões a respeito de qual condição adicional poder-se-ia inserir na concepção tradicional de mentira. A respeito da condição (3) da concepção agostiniana, por exemplo, muitos pesquisadores têm corroborado a ideia de que o mentiroso tenha a intenção de enganar. No entanto, essa não é uma questão consensual: existem estudiosos que questionam a tese de que intencionalidade seja uma condição necessária para a mentira (cf. CARSON, 2006; FALLIS, 2009; SORENSEN, 2010). Além disso, existem outras nuances nessa discussão que não adentraremos aqui: por exemplo, existem pesquisadores que não apenas incluem como condição necessária o caso da intencionalidade do falante, mas também a necessidade de que o falante creia que irá enganar (cf. CHISHOLM & FEEHAN, 1977.) ou a necessidade de que o falante não tenha como garantir a verdade de sua afirmação (cf. CARSON, 2006). 
ARTIGO DA REVISTA CIÊNCIA E VIDA ( Prof. Dr. Ronaldo Miguel da Silva -  Revista Filosofia Ciência & Vida Ed. 130). Maiores informações, leia o artigo completo:
SEGUE O LINK DO ARTIGO COMPLETO - http://filosofiacienciaevida.com.br/verdade-ou-mentira/ 

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